RADICALISMO POLÍTICO EM ANGOCHE
Nenhum poder é possível de maneira durável, independentemente dos meios de que ele dispõe, se os homens não se entendem suficientemente do que é legítimo e sobre o que não é (1).
Na tentativa de se enquadrar numa visão das transformações da sociedade moçambicana, Angoche surge com um radicalismo político, jamais visto na história daquele círculo. Aliás já existiu, na Revolução Francesa. Entretanto, vão surgir, nesta cidade, duas facções especiais. Uma composta pelos velhos, ditos conhecedores da verdade. Outra formada pelos jovens adeptos, convencidos pela mudança, no futuro.
É evidente que ninguém duvida que todas as mudanças ocorrem no futuro. Porque o futuro é a única esperança que temos? Realmente, a guerra não começa pelo amor à própria política, mas pela conquista de um estatuto socialmente aceitável ou seja de um lugar no Governo.
Nesta pespectiva, os velhos reformistas com os seus antigos ideais não se contentam com o advento de novos valores, pregam a sua bandeira como uma doutrina religiosa. Ao passo que os jovens animados e convencidos pelo futuro oferecem o seu vigor, a sua energia para apoiar as mudanças. Que mudanças? Quando?
Estas duas posições fazem com que a sociedade se transforme num holocausto. Em consequência , as famílias se dividem, os valores sociais se transpõem, a solidariedade deixa de ter o seu valor.
De certeza, todos lutam pelo mesmo fim. Verificou-se na ruptura, onde os radicalistas ascenderam ao poder, mas não durou. O que vale? Saber gritar e não saber escrever? Saber escrever e não saber ler? Se a ruptura for deste género, estaríamos a comprometer a história. Mas vale a pena, porque ainda a sociedade muda, não importa para o pior, mas muda, tudo é mudança, Segundo Heraclito.
Assim, tudo se confunde com tudo. Aqueles que não se manifestam são espiões. Perseguidos para se identificar, excluídos da convivência social. Até quando?
Em suma, não se pode fundar com razão os costumes, as paixões, os interesses, as crenças, as opiniões, as ambições, etc. Nestas matérias, a sociedade deve entender-se e chegar a um acordo (2).
(1) e (2), Ngoenha Severino Elias, Das Liberdades as Independencias, Paulinas edições, pag.88: 89
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